sábado, 11 de junho de 2011

A chuva

Mais um dia e ela mais uma vez se via só. Rodeada de pessoas, mas sozinha. Sem ter com quem conversar, com quem chorar, com quem se desligar mesmo que por um segundo daquela vida. Lembrava daqueles que fizeram parte de seu passado. Familia ela ainda tinha. Mãe, pai, irmãos. Amava-os mais que tudo e relembrava bons momentos  passados juntos. A saudade chegava. Marina se sentia mais sozinha do que nunca. O único conforto era olhar as fotos antigas que trouxera consigo pra amenizar o que apertava seu peito. Em meio a tanto passado visto ali,  se perguntou sobre a vida, o que mudou, o que aconteceu pra chegar onde chegou.  Se perguntava se aquele seria seu fim, viver naquele quarto, daquela maneira. Será que é só isso que eu tenho? Que eu posso conseguir? ( Burra desse jeito acha que vai chegar onde? Deixa de sonhar bexteira e põe os pés no chão! É aqui e assim que tu vive, deixa de ilusão!) Queria sair daquela vida, daquele lugar, deixar tudo pra trás, e ir em busca de algo maior. Ganhar dinheiro de verdade, limpo, com o suor de um de um dia digno de trabalho, amigo sinceros, um amor talvez, (ou mesmo o antigo nunca esquecido). Queria sair dali, ir em busca da tal felicidade, descobrir o que significava a tal amizade, ver nas pessoas sinceridade!
Desejar e sonhar com isso era bem mais fácil, fazia bem, mas ao abrir os olhos a sujeira estava a seus pés e a realidade era feia e a verdade doía. Desejava nunca estar ali, nunca ter chegado ali. Pensou em sumir ( como se alguém fosse sentir falta), desaparecer, sair sem rumo... por quantas vezes pensou em acabar com tudo de uma vez por todas, ir pra onde não houvesse mentiras, sujeira, dinheiro, falsidade. Marte, Vênus, tanto faz... não ter do que lembrar, nem uma vida suja pra esquecer, um lugar novo pra recomeçar o que não havia como. Teria sido mais fácil ( pra todos) se essas tentativas não tivessem dado errado, se não tivessem falhado. Quem sabe essa ‘felicidade’ viesse a seu encontro, quem sabe o sossego tão esperado fosse achado. Acabar com tudo seria mais fácil do que se ver no espelho. O reflexo que dava o atestado de tanta estupidez, tanta burrice. A culpa?! Dela mesma, ( ou não) por não ser como queria, por não ter o que queria. Se via como única responsável pela lama nos seus sapatos. Não havia ninguém mais. Era só ela e a incompetência, a frustração, o arrependimento, o desgosto. O abismo em que caia cada vez que pensava sobre os caminhos percorridos, só aumentava a medida que remetia ao passado, e àqueles que fizeram parte de um tempo feliz, onde tudo que agora confundia os pensamentos, anulava a razão, simplesmente não existia. Se apegar àquilo confortava por um momento. De olhos fechados, ( uma lágrima percorria seu rosto) era fácil se remeter a cheiros, cores e sabores de um tempo bom.  A cabeça ficava a mil! O grito sufocado no peito, se libertava com uma força que nem sequer sabia que possuía. A vontade de voltar falou alto. Ao passo que a chuva caia, as lágrimas seguiam o mesmo ritmo formando um misto de sensações, aumentando a melancolia. Olhar pela janela, ver a água fria enchendo as ruas, lavando almas perdidas, ouvir a música no rádio, ver o cigarro e a garrafa de whisky, ( já pela metade- seus leais amigos) culminavam em mais um porre e mais um dia de arrependimento, em mais perguntas sem respostas, em mais aquelas ações sem razões. Por um segundo pensou em pegar o telefone, relembrar um caso, esperar pelo acaso. Algo distante demais que tão logo contentou-se na solidão de seu quarto, num canto da cama. O frio aumenta a solidão. E aquela noite parecia mais fria e sozinha do que nunca. Sem ter com quem se abrir, nem a garrafa de whisky ( agora já vazia) lhe faria companhia em meio a escuridão que habitava seus pensamentos, e a tristeza que se abatia sobre ela. De porre, suja, sozinha, só restava esperar mais um dia chegar, e mais um vez sorrir em meio a toda não verdade que via pela frente. Rir do ridículo, ( de todos que o faziam) ser indiferente a quem tenta lhe ferir, usar o cinismo com maestria, e  fazer do dia chegado, mais um dia a viver, sonhar, lembrar, e não mostrar qualquer tipo de sentimento que possa sentir alguém comum. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Fria e cínica

Marina mais uma vez se via só. Eles continuavam a ignorá-la, e aquela consideração que antes parecia não ser plausível de dúvida, agora era questionável. Desprezo, indiferença. Era só o que recebia. O mundo era cada vez mais feio, as pessoas cada vez mais falsas, as mascaras belas e requintadas caiam, as palavras de carinho, agora eram silêncio, e os olhares que sorriam, e falavam sem dizer nada, agora miram em outra direção, como se nunca o houvesse feito antes. A convivência antes prazerosa, agora era tortura, o que fazia bem agora era dor. Os dias passavam e com eles a frieza para seguir em frente também era preciso. Percebeu que pra conviver era necessário ser da mesma forma. Tomou pra si tudo que lhe rodeava , passou a agir tal qual presenciava. A frieza com que olhava ao seu redor, a ironia estampada no rosto, o sorriso cínico, o veneno a cada palavra dita. ( Ao contrário do que aparentava, não era burra, mas por ser bipolar sabia ser o oposto do que sentia.) Apesar de ainda ter aquilo que pra eles não tinha mais importância, preferia não dizer, nem fazer nada além de observar e saber a hora e a coisa certa a dizer. ( Cada um tem o que merece, colhe o que planta!) Mesmo que por dentro sofresse, por não ser tal qual agora se fazia ser, chorava e se perguntava porque tanto respeito por quem não cuida nem dos seus. Marina ainda era a mesma que saiu de casa disposta a descobrir o mundo, assustada, curiosa, e  amável . A cara fechada era só pra espantar qualquer que se aproximasse, nos olhos havia doçura, medo, e a esperança de pensar em função do outro e que esse fosse da mesma maneira. (Quanta idiotice! Quem vai se importar com o que tu pensa? Quem liga? Aprende que ninguém nessa vida não adianta fazer nada por ninguém porque tu nunca vai ter ninguém que faça por ti!) Quanto mais pensava nisso, mais lembrava daquele que marcou. A vontade que dava de sumir, fugia de toda descrição. Por vezes, ia pro mar, admirar a força com que a água batia nas pedras, força que queria tanto ter. Chorava e criava coragem pra continuar vivendo depois dali. A tarde caia, o sol se escondia, e fazia lembrar que era hora de voltar pra casa, mais uma vez, recomeçar...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dia após dia

 Agora ela tinha amigos. Alguns da vida, outros do passado. Os mais antigos , são os menos desleiais, os novos, superficiais. Algo em comum, um humor,algo que lhes e quando interesse,  mas nada se compara àqueles há anos sabem de seus defeitos. Esses raramente causam dor, decepção. Era assim que ela se sentia a cada dia passado e a cada conversa que antes fazia parte, ( e as vezes mais que qualquer um) agora sem sua ausência ser mais notada. Marina era muito bipolar ( tri- ou quadripolar) as vezes aquilo não chegava nem perto de atingí-la, passava num piscar de olhos, dava vontade de rir , passava como o vento, o mesmo vento que remetia à sua infância e só trazia coisas boas. As vezes era mais fácil preferir  ficar só, sorrir só. ( Lava essa cara, se pinta, se perfuma, se ajeita.) Agia como se não sentisse, como se não se importasse. As vezes ser fria era bem melhor e ajudava a sorrir mais, depois de duas doses.  Mas em dias pouco comuns, aquilo doía e a solidão aumentava. Aqueles que faziam parte da sua vida antes, já não tinham mais as mesmas conversas, e só restava conviver com aqueles que por vezes a rejeitavam, (talvez por causa daquela cicatriz do lado esquerdo) mas que em bons momentos despertavam a menina que se escondia quieta. Na maioria do tempo ela sorria e os fazia sorrir, mostrando  o que era além de peito e bunda, mas não continuou assim. Sua importância desapareceu, e ela estava cada vez mais sozinha. O que antes era sinônimo de amizade, agora era silêncio. E a distância só aumentava. Os assuntos discutidos já não era mais preciso ela saber, nada mais precisava ser compartilhado, e assim ela aprendeu duramente a não ter mais  com quem conversar, ou se desligar da vida que levava. Eles cada vez mais unidos, e ela ficava cada vez mais cedo sozinha com seus medos, anseios e sonhos. Voltar  depois de cada noite para aquilo que chamava de casa era cada vez mais deprimente, e ver o quanto aquilo corroía por dentro era pior. Dai, os únicos  que nunca a abandonavam ( ao menos que estivesse vazia ) era uma garrafa de whisky, e um cigarro, que a faziam esquecer do dia que tivera. Esses estavam sempre lá, prontos pra suportar e aliviar tudo aquilo que que de porre seria esquecido. Era tudo que ela precisava. Esquecer depois de ter sido esquecida. E mais um dia anunciava sua chegada, e mais uma vez era hora de recomeçar. Fazer  cara de tudo bem, ser indiferente, mas não completamente por gostar, e em consideração ao que ficou. Era hora de olhar pra todos eles, esperar  a rejeição ( ou não) e continuar sorrindo, chorando, dançando, correndo, dando, bebendo, fumando... vivendo!

domingo, 8 de maio de 2011

Conto de fadas só em livros.

Contos de fadas é pra quem tem pensamento fraco , e não atinou pra realidade dura e feia que em que vive.
Não digo sonhar alto, digo se desvincular da verdade. Acreditar que tudo é lindo, que as pessoas sempre são como aparentam ser,( pelo menos aquelas que se fazem de boas, solidárias e simpáticas o tempo todo) é burrice.
Ninguém consegue se mascarar o tempo todo, uma hora ela cai, e sinceramente, é muito mais digno fechar a cara e dizer que não gostou de fulano pelo fato de ele ser completamente idiota do que se fazer de boa pessoa, se por dentro o desprezo corrói. É o mesmo que gostar de alguém por interesse, e se fazer de apaixonada.
Se gosta, diz que gosta, se é só isso que atrai, procura alguém que busque somente atração também. É mais honesto se prostituir do que estar com  alguém por dinheiro. (As coisas acontecem da mesma forma..prazer por dinheiro, ponto!) Reconheça o que é, vista a camisa e dê a cara à tapa! (Ou será que a coragem só aparece na hora do faz de conta?! Talvez nem coragem pra fazer isso tenha.. talvez seja um impulso, e um objetivo maior que dê o 'start'.) Com Marina acontecia assim. Tinha alguém com tivera um caso, mas a ambição tomou conta da menina doce que corria no quintal de casa brincando com o irmão. Agora o mundo afora, as grandes cidades, os prédios, as luzes, a música, era tudo que ela queria. Marina agora vivia no luxo, na luxúria, e tudo mais que o dinheiro podia lhe dar. Homens, festas, roupas, dinheiro. Em uma noite só ela perdia a conta de quantos a tocavam, e quantas vezes já tinha ficado bêbada. Aquela menina meiga e de olhar doce havia sumido. Ou talvez estivesse quieta, assustada e calada num canto em meio toda aquela bagunça.
Após cada noite mal dormida (quando dormia) se perguntava o que fazia naquele quarto velho, fétido, melancólico com seus lençóis sujos, que tantos já haviam se deitado, e como foi parar ali. Se pegava pensando naquele que fez parte do seu passado. Lucas foi o primeiro amor de Marina e primeiro homem também. Ele sabia do que ela gostava, tinham muito em comum, mas fazia questão de agir como se não fizesse diferença ela estar lá ou não. Às vezes enquanto conversavam, ele mostrava algum ligeiro interesse sobre ela, e depois ele simplesmente a deixava. Retornava, e era sempre assim, esse ciclo vicioso que fazia com que Marina não conseguisse se soltar daquelas cordas que a deixavam imóvel e submissa a qualquer vontade de Lucas. Apesar de conhecê-la , e ter se deixado apaixonar por uma garota (com aquela cicatriz horrível no lado esquerdo do corpo) que se vestia mal e sorria engraçado, se negava a aceitar tal fato e se render nos braços dela. Sabia que seria um caminho sem volta, uma vez que se entregasse, não conseguiria mais sair dali.
O que incomodava de verdade, era o fato de Marina ser como era e ter  invadido sua mente. E esse tal amor que os hipnotizava  e fazia os corpos se tornarem um só, numa dança estranha seguida de choro e despedida, simplesmente sumiu. (É! Simples e direto como a palavra..sumiu! ) Agora ela era do mundo, sem apego por ninguém. Seus amores de uma noite, só duravam uma hora ou enquanto a bebida fizesse efeito.( Pra ela, todos se chamavam “Lucas”.)
E lá estava ela mais uma vez se perguntando e imaginando “Se ele não tivesse ido, como seria agora?! Eu seria feliz? Será que ele me amou...será que ele ainda lembra de mim...” ( Por que pensar nisso agora? Eu vivo como quero, tenho quem quero, e ainda ganho pra isso. Foi assim que eu escolhi e é assim que  vou continuar vivendo.) As lágrimas que percorrem seu rosto sujo e cansado, se misturam com soluços e gritos de desespero que são a soma do que havia guardado em seu peito. O nojo, a repudia , o desprezo, e a raiva ao se olhar no espelho, faz lembrar que mais uma noite está por vir e o dia apenas começou. É hora de esquecer tudo que ficou pra trás, olhar pra frente, lavar o rosto, e encarar o mundo lá fora com o mesmo desprezo que se trata alguém de que não gosta (simplesmente pelo fato de ser completamente idiota). O mundo pra ela fica mais fácil assim...apenas cifrões, luzes, roupas e bebidas. É só o que interessa, (que se dane o resto do mundo) os hipócritas que fazem de conta que não sabem o que as filhas fazem andando pela madrugada( entre outras, drogada, bêbada e nua) que consumam do mesmo produto que produzem. Que os filhinhos que as mães tanto amam, sejam fêmeas entre os machos. Essa é a vida dela. Um beco, um quarto, uma rua , um carro. (Era uma vez um coração, uma alma e um perdão) Sem temer, sem apego, sem elo, tudo que ela vê agora é (im-) perfeição.